quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Esses blocos de pedra, desinteressantes, que oprimem uns aos outros e a si mesmos, nas casas e nos prédios e nas calçadas...

Ele apenas diz quando não está afim:
- Não quero! - ou então - Ah, que bobagem!
Diz isso, ou melhor, ralha, com intenção de paz ou alivio para si.
Mas ela sempre tenta
novamente, e
às vezes
começa a contar sobre as meninas do trabalho, ou
qualquer
coisa do seu dia, e
ele fica olhando para a televisão com cara de quem
escuta...
-Escuta. - ela diz em tom calmo e suplicante e
fica estática até que ele vire-se para ela.
Então ele olha para ela,
faz força pra acalmar-se.
Ela (re)começa empolgada, mas depois,
depois do desdém, do incômodo espinhoso dele,
as palavras caem moles de sua boca, sem cor, significado ou
importância...
ela sente
como que uma adrenalina que dispara o coração,
uma taquicardia, só que
acompanhada
de algo profundamente
desagradável.
Uma mágoa que não se sabe se é de si
ou do outro, se é de agora ou de antes,
e que anula o valor dos objetos e das pessoas, e
dela,
que parece insuportável
que parece que vai sugá-la e compactá-la
esmagá-la...
e parece realmente
insuportável,
mas ela suporta. E as vezes até termina de falar.
E depois que ele a fere sente-se mal, às vezes
volta atrás, às vezes volta
pra televisão.
E parece opressor e insuportável,
mas ele também suporta.
E eles suportam,
aguentam firme,
suprimem-se
e viram blocos ipenetrantes e impenetráveis e
desinteressantes...
E todos os dias eles são
NORMAIS. Na fila
do banco, nas ruas, no sinal
de trânsito, esperando
por algo,
ansiando,
sentados no sofá,
preocupados com as contas,
eles são comuns e a vida é
assim, eles
pensam.