Apresento hoje 3 ensaios de uma série com a temática "pós-namoro".
(Trilha sonora recomendada: Kid A - Radiohead e How to desapear completely - Radiohead)
[Sem titulo]
É uma tatuagem que deu errado, ou mais, membros amputados.
- É filho, a sua coluna não funciona mais, você sobreviverá, sem as pernas.
Você sabe das conseqüências.
O mundo segue. O céu ainda é azul, profundo e lindo, mas sua disposição de espírito falha.
É trágico.
Um animal ferido abandonado à intempérie.
É o nosso amor ferido e abandonado por nós.
Em breve será outro mês e depois outro ano, e pro mundo será como se ele jamais tivesse existido, e só nos restará uma mágoa, um sem-volta.
Caiu e rachou, nós escolhemos não juntar, não consertar.
O fim devia ser como uma bomba, algo irreversível, que acabasse com tudo, mas é uma dor que dura, e que volta, um remorso, angústia.
A agulha mais fina dói como a brasa mais quente.
Esqueço e sigo, mas sempre sou pego nesta armadilha metafísica dos meus sentimentos que é inquebrantável pela razão.
Saudades numa tarde
Assistindo um filme no pc. O celular chama. Pára o filme e vai atender. É só um amigo. Queria saber um número de telefone. Certo. Tchau. Deita-se na cama. O sol bate nas janelas fechadas. O som de um ônibus que passa lá fora, na esquina, anuncia que o mundo continua. O mundo não espera sua ferida curar. Pensa bem e vê que tudo vai estar bem de qualquer jeito. Se der e se não der, um jeito vai ter que se dar. Se não, tudo bem também. O jeito que for será um jeito, pois o jeito se dá. Assim ele tenta se consolar. Mas logo a coisa se repete: “Do jeito que ta, não da.”
Essa dor não é como uma chama: avassaladora. É como uma brasa, que queima sempre. Que dura. E dura. Arde. Quieta e silenciosa. Ele esquece da brasa, mas a brasa é só o que sobra quando o silêncio soa. Quando se encontra consigo mesmo, vê que o seu si esta enfermo.
Pensa nas coisas que divertem e nada é desejado. Está enfermo. Não quer remédio, não quer cachaça, não quer ver o amigo, não da bola pra moça que se engraça.
Tenta dormir, mas há travesseiros demais na cama e uma pessoa a menos.
Quando pensa e percebe que são lamentações pára: “Lamentações, que vergonha! Ou se age ou não se lamenta”. O dia já começou. Que que se vai fazer? A ausência dela é uma presença forte entre ele e a solidão. Entre ele e a multidão. Em qualquer lugar, tudo lembra. “Não vai ser bom” – ele pensa, “o que quer que aconteça”.
Um fantasma
Criei este fantasma aleijado e a dor dele é a minha. Ele me assombra, este espírito que vaga perdido, é como um filho que abandonei. Por mais que repita que não há culpados, que as coisas são assim mesmo, não parece certo, nem bom.
Não acaba com a vida, ela segue, mas, torna alguns momentos miseráveis. E o que se vai fazer?
Assombra-me o fantasma terrível de um amor que não teve jeito, um amor que insiste em existir mesmo que não funcione.