quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Júpiter Maçã em Pelotas 25/08/10

Ontem fui ao show do Júpiter Maçã. Flávio Basso. Conheci o trabalho dele com o que, doze anos de idade? Na banda Cascavelletes. Aquilo foi a perfeição da música pra mim durante anos. Muitos anos. Rock and Roll. Sexual. Divertido. Os caras sabiam fazer um som melhor do que ninguém. Levei muitos anos pra conhecer o trabalho solo dele, sob o nome de Júpiter Maçã. E mais um tempo pra assimilar e curtir. Porém, depois que comecei a gostar passei a achar o Cascavelletes mais infantil. O som do Júpiter é mais maduro, psicodélico, sagaz, irônico e agradável.
A primeira vez que eu o vi tocar ao vivo foi em 2009, eu acho, aqui em Pelotas. Com o Thunderbird no baixo. Eu não sei direito quem é o Thunderbird, mas costumava ver ele na MTV anos atrás, e ouvi, não sei onde, que ele participou de várias bandas true. Enfim, lá estávamos nós, na cervejaria, uma antiga fábrica que agora é local de eventos. Festas. Grandes. Todas as pessoas da, digamos assim: “cena rock/alternativa” de Pelotas estavam lá. O que não é grande coisa, ainda assim, é a parcela da população daqui que gosta de rock. Haviam pílulas, pó, fumo, cerveja e vodka barata, por toda a parte. O show atrasou umas 3 horas, depois o Júpiter chegou com a banda, muito bêbado, velho comparado com as fotos em que eu tinha visto ele, até aquele dia, mas com muita presença de palco. A voz também já não era mais a mesma, mas ainda assim foi um show do caralho. Curto, mas, do caralho!
Um ano ou mais ou menos isso depois, ontem, fui de vê-lo novamente. Eu e minha namorada, a mesma que foi comigo no primeiro show. Sem dinheiro, sem bebidas, numa quarta-feira, sendo que ela tinha que ir pra São Lourenço pela manhã, bem cedo, para trabalhar. Dessa vez o show ocorria num bar que fica quase em frente a universidade católica. Particular. Zona preenchida pelos playboys. Uma cerveja $5. Entrada $15. O show atrasou de novo, mas dessa vez tínhamos pressa. Só queríamos ver o Júpiter, mas antes tinha uma banda que ia abrir pra eles. Divergência. Até que curti o som dos caras, eles sabem dar ritmo à música, sabem trocar de ritmo no meio da música. O vocal grita bem. Afinado. Mas fiquei com a impressão de que as letras não prestavam. E tocaram covers demais. Demais.
Tudo piorou quando o Júpiter chegou. Com a mesma roupa do show na cervejaria. Um casaco estilo de banda marcial. Algo montado. Fiquei com aquela impressão de estar sendo passado pra traz. Ele parecia sóbrio. Gordo. Fiquei olhando pra ele, decepcionado. Procurando o Júpiter ideal, por traz das músicas que eu ouvi por tantos anos. Havia uma criançada na fila da frente, perto de onde estávamos, e eles ficavam tirando fotografias com suas máquinas digitais, com flashs, sem parar, sem respeito. Eu olhava para o júpiter, com seu tórax enorme, barriga, poucos cabelos, ignorando tudo aquilo, se esforçando, se contendo. Pode ser que fosse paranóia minha, mas fiquei com essa má sensação de que ele e aquelas pessoas estavam conseguindo acabar com tudo, ele ali se vendendo pras crianças, tendo que tolerar tudo aquilo. As músicas simplesmente não tinham significado algum. Eu não conseguia sentir prazer em ouvir as canções daquela voz desafinada, pra aquelas pessoas. Um cara com uma barba grande, alargadores nas orelhas, um estilo assim como o Jimi do Matanza, motoqueiro, sei lá, pseudo-machão, ficou bem na frente do palco, se escorou, deitou pra trás fazendo uma expressão que penso que ele supunha ser uma “cara de mau”, ou algo assim, e bateu uma foto com sua câmera digital de 10 mega pixels, e flash, da sua expressão séria de malvado, com o Júpiter atrás de si, “olha como eu sou mau com o Júpiter atrás de mim, eu vivo loucamente”.
Depois de umas 5 ou 6 músicas eu e ela resolvemos sair de tão de perto do palco, as pessoas nos empurravam e o som era muito alto pra um lugar tão pequeno. Fomos mais pra trás, bem mais pra trás. Dois caras, um grande e alto, maior que eu, e um médio. Os dois muito bêbados, o mais alto e mais irritante com uma cara de “moro com a minha mãe até hoje, ela aprova tudo o que eu faço mesmo eu sendo um idiota; absorvi todos os preconceitos machistas do meu pai; não sei nada sobre tratar as pessoas com dignidade ou respeito”. Ele gritava ao final de cada música, coisas como: “Filha da puta!” Ou “vai se foder!” Ou “namorado!” Essa última eu não sei o que significava na cabeça dele. Mas ele repetia muito. O médio estava mais bêbado, acho que ele não conseguia perceber quando uma música começava ou terminava e só gritava após o alto gritar. Não dizia nada de mais, apenas olhava pro Júpiter e urrava insanamente. Em seguida a banda começou a tocar “querida superhist” se eu não me engano e no meio do negócio o Júpiter estimulou o pessoal a bater palmas num ritmo, fazendo a percussão da música e tudo. Os dois macacos, o alto e o médio, batiam palmas como zumbis. O pior de tudo é que estava evidente que eles e muitos outros sequer sabiam quem era o Júpiter ou o que diabos acontecia ali.
Saímos antes to término é claro. Ela chateada por serem já 3pm e eu decepcionado com tudo. Falei pra ela um pouco disso tudo que eu disse aqui:
- Não era pra ser assim, ele devia estar num banco ou algo assim, tocar as músicas com algum sentimento, pra uma galera que soubesse apreciar. E não querer parecer jovem e ativo e gay e cool e style pra criançada.
Pude ver que ela concordava um pouco comigo pela expressão facial.
- Tu não gostou de nada mesmo?
- Eu estou triste e decepcionado.
- Tu ta ficando velho.
- Prefiro ser velho a compactuar com isso que eles estão fazendo. Prefiro ficar em casa. Vou gastar todo o meu dinheiro numa internet, tu vai ver.
- Tu precisa de internet mesmo.
- Outra coisa, ele ficou cantando muitas do Plastic Soda.
- É. Eu gosto mais do júpiter bossa, maluco, psicodélico e brasileiro.
- Eu reafirmo que esse negócio de fazer letra em inglês é coisa dessas pessoas, tipo esses caras do death metal, que se acham os malvados, que fazem umas letras ridículas, infantis, sobre ódiozinho e morte, e que nem o próprio bom senso deles os deixa dizer, cantar, essas porcarias, em português, por que eles sabem que todo mundo riria. Eles sabem que é ridículo.
Nós fomos pra casa e dormimos. Sair de lá foi bom. Não sentir pena do dinheiro dos ingressos foi bom. Ir pra casa e descansar foi bom. Nossas roupas, cabelos e peles fediam a fumaça de cigarros, com todas a 4000 substâncias tóxicas e conservantes, o que sempre me lembra o cheiro de veneno de barata. Nenhum de nós dois fuma.

4 comentários:

  1. Hahhahhah

    Como sempre, tu és pior do que o Holden Caulfield pra achar que todo o mundo na tua volta é um hipócrita de merda fazendo pose de alguma coisa. Mas não vou te condenar por isso. Achei legal a forma como tu contaste a história, legal a sensibilidade da coisa toda, e legal que vocês não tenham sentido pena do dinheiro dos ingressos =)

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  2. não preciso dizer mais nada.. tu é que sabe brincar melhor com as palavras baby!

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  3. Abandona a carreira de resenhista enquanto há tempo. Não dá dinheiro e nem mulher. Volta pra vida de poeta. Não dá dinheiro...

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  4. É, isso chama decadencia, tu não pode esperar que o auge dure pra sempre, é como ver um show dos titãs, dinossauros do rock, velhos e fodidos. E além do que se a nova geração é retardada, a nossa foi pior, mais true mas pior. E também vou te dizer, um show sobrio é completamente diferente de um show chapadasso (y)

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